sexta-feira, 15 de outubro de 2010

AS DOSAGEM DE MEDICAMENTOS NOS POMBOS


Dr Vet. Marc. R. C. Ryon

Introdução e Justificação

A posologia é o estudo das dosagens dos medicamentos em relação à sua via de administração e ao estado do paciente. O columbófilo usa muitas vezes dosagens erradas ou ultrapassadas o que pode tornar um tratamento inútil ou ao contrario provocar intoxicações. Este fato não tem nada de estranho uma vez que só nos últimos anos os centros de pesquisa de medicina veterinária começaram a publicar dados específicos para os pombos. As evoluções recentes demonstraram que exatamente como nos mamíferos, cada espécie de aves tem a sua própria gama de terapêuticos com farmacodinâmica e toxicologia específica e conseqüentemente com posologia adequada. Podemos mencionar alguns exemplos:- Existem indicações de que os antibióticos do grupo da Espiramicina podem ser inativados pela flora da mucosa do papo do pombo. - O Fenbendazol, vermífugo de largo espectro, usado, por exemplo, em vários pássaros, é bastante tóxico para os pombos. - O pombo elimina o Cloranfenicol muito mais rapidamente que a maior parte das outras aves. Este livrete tem uma amalgama de informações baseada em testes e estudos farmocinéticos recentes e ainda em dados empíricos o que explica as discrepâncias por vezes existentes entre as mesmas. Evidentemente que esta ultima categoria está condenado a desaparecer. Espero que os columbófilos entendam que a complexidade dos problemas e a evolução sistemática do seu desporto implicam sempre mais umas regulares assistências veterinárias e também que os veterinários estejam prontos para dar as respostas adequadas que a columbofilia espera deles.

Quantidade de vitaminas aconselhadas para pombos expressa por quilo de alimento.

Coluna 1: Números para aves de alta produtividade, segundo Scott-Nesheim- Young.
Coluna 2: Números corrigidos por pombos, segundo o Dr. Kurt Vogel

DISCRIMINAÇÃO
COLUNA 1 VITAMINAS ACONCELHADAS PARA AVES DE ALTA PRODUTIVIDADE
COLUNA 2NÚMEROS CORRIGIDOS POR POMBOS Vitaminas E e PP
VIT. A IE/kg
11.000
11.000
VIT. D3 IE/Kg
1.000
1.000
VIT. E mg/Kg
15
25
VIT. K1 mg/Kg
2
2
VIT. B1 mg/Kg
2
2
VIT. B2 mg/Kg
4
4
VIT. B3 mg/Kg
12
12
VIT. PP mg/Kg
15
35
VIT. B6 mg/Kg
4,5
4,5
BIOTINA mg/Kg
0,15
0,15
ÁCIDO FÓLICO mg/Kg
0,4
0,4
COLINA mg/Kg
500
500
VIT B12 mg/Kg
0,006
0,006

OS ERROS MAIS FREQUENTES NA ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAMENTOS AOS Pombos-correios

Se ocorrerem acidentes ejetando pombos por falta de técnica ou desconhecimento das dosagens, a maior parte dos erros acima referidos acontece na altura da preparação de água medicada.
1º Nas medidas O rigor farmacêutico prefere a expressão dos volumes e pesos em números métricos (ml ou mg ou gr), todavia existem sempre produtos que trazem indicações em colheres. Daqui pode surgir uma confusão porque os diferentes costumes alimentares dos diversos países podem induzir ao erro. 20 Gotas = +/ – 1 ml; 1 Colher de café: +/- 1,5 até 2 ml (Portugal), 5 ml (Bélgica, Holanda, etc); 1 Colher de chá: +/- 3,4 ou 5 ml;1 Colher de Sobremesa: 8 até 10 ml;1 Colher de Sopa: 15 ml.
2º Na interpretação das concentrações a preparar. Existem columbófilos que confundem a quantidade da substância ativa a administrar com a do medicamento comercializado. Por exemplo, de Trimotropim é de 200 mg por litro de água: do medicamento X contendo 10% desse princípio ativo é necessário administrar 2000 mg (ou 2 gr) por litro de água.
3º Na adaptação da dosagem a quantidade de água absorvida pelos pombos. A quantidade diária média absorvida por 20 pombos é de +/- 1 litro e este fato serve em geral de base aos cálculos. Assim é preciso adaptar as dosagens às variações de absorção de água de bebida: relativo ao consumo de água deve-se conseqüentemente diminuir a quantidade por litro em períodos de polidipsia (grande calor ou diarréia) e aumentar a mesma no inverno.
4º Na frequência de administração do medicamento. Em geral constata-se nos pombos uma eliminação bastante rápida dos antibióticos e outros medicamentos; assim é importante administrar os mesmos duma maneira contínua ou no mínimo várias vezes por dia.
5º No uso simultâneo de produtos interactivos. No ato de administrar mais do que uma substância terapêutica, é preciso saber se existe qualquer interferência possível entre elas: - Pode não existir interferência, - Pode existir sinergia, - Pode existir antagonismo, - Pode existir alteração do efeito procurado.

DOSAGEM DE ALGUMAS SUBSTÂNCIAS ETIOTROPICAIS USADAS NO Pombo-correio

As dosagens mencionadas indicam a quantidade terapêutica duma substância ativa; assim deve-se sempre verificar a percentagem da mesma dentro de cada produto farmacêutico. As dosagens para injeções ou para administração oral direta são válidas para pombos adultos de +/- 500 gr. As dosagens para administração na água de bebida são calculadas na base de um consumo diário de 50 ml (= 1 livro por 20 pombos). Dados baseados em publicações de Devriese, Dorrestein, Raddei, de Backer, Ducatelle e vários outros.
A: OS QUIMIOTERAPÊUTICOS ANTI-INFECCIOSOS. Os quimioterapêuticos anti-infecciosos perturbam o metabolismo dos micro-organismos impedindo um dos seguintes processos: - (*1) Síntese da membrana celular, - (*2) Síntese de DNA, RNA, nucleotídeos, - (*3) Síntese de proteínas, - (*4) Função da membrana citoplasmática.
sintéticos 1 - Sulfamidas (*2): bacteriostáticos: p.o. 100 mg/pombo/dia. 1 a 2 gr / litro.Quando a absorção de água é insuficiente: perigo de formação de cristais renais. Ver também sob “coccidiostáticos”.
2 – Pirimidinas (*2): Bacteriostáticostrimotopim: p.o. 10 a 20 mg / pombo, 200 mg / pombo Freqüentemente numa combinação bactericida com Sulfamidas (1/5), por exemplo com Sulfametaxazol em casos de Salmonelose tratar durante 10 dias.
3- Derivados do furano (*2): bacteriostáticos
Furaltadona – Furazolidina p.o. até 7,5 mg / pombo/ dia, 150 mg / litro, 200mg kg de ração. Índex terapêutico estreito; em casos de sobre-dosagem muito tóxicos (fígado) freqüentemente em combinação com Cloranfenicol.
4 – Quinolonas (*2): bactericidas. Flumequine: inj. IM ou SC 15mg/pombo. p.o. 15 mg /pombo/2x por dia Administração oral não recomendada (Quesemberry 1988)Sobre-dosagem: hepato e nefro tóxico.
Enrofloxacina: p.o. 5 a 10 mg/pombo, 200 mg/litro.Espectro bastante largo, Em casos de Salmonelose: 10 dias. inj. IM ou SC 2,5-5 mg. /pombo.

BIO-SINTÉTICOS ou ANTIBIÓTICOS

1. Betalactaminas (*1) bactericidas: Na medicina das aves usa - se principalmente:
Ampicilina: p.o. (60) 75 a 100 mg / pombo / 2x por dia; 3000mg / litro. Ressorção fraca no trato gastrointestinal, excreção rápida.
Amoxicilina: p.o. 50 até 75 mg/pombo/ 2 a 4 x dia. 1000 a 1500 mg/litro. Melhor biodesponibilidade do que a Ampicilina, ressorção muito variável. Sal sódico: inj. 50 a 75 mg/pombo/1 a 2 x por dia. Indicação: pasteurelose.
2. Macrolidos (*3): bacteriostáticos: De Herdt (1990) indica que os Macros lidos podem ser inativados pela flora do papo.
ESPIRAMICINA: p.o. 12 a 25mg/pombo. 500 mg/litro.Inj.: IM 12,5 mg / pombo.Indicação.: Infecções Vias Respiratórias.
Eritromicina: p.o. 12 a 25 mg/pombo. 500 mg / litro. Inj.: IM 12,5mg/pombo. Indicação: Campylobacter.
TILOSINA: p.o. 12 a 25mg/pombo. Inj.:12,5 / pombo/4x por diaIndicação.: Infecções Vias Respiratórias Superiores.
3. Lincosamidas (*3): bacteriostáticos LINCOMICINA: p.o. 6 a 25mg/pombo. 250 a 500 mg/litro.Inj.: 12,5 a 25 mg/pombo/ 2 x por dia.
4. Aminoglicosidos (*3): bacteriocidas, Devido à fraca ressorção no trato gastrointestinal a administração oral só tem interesse para tratamentos aí localizados. Todos bastante tóxicos.
Estreptomicina: p.o. 50 a 100mg/pombo. Inj.: 12 a 25 mg/pombo.
NEOMICINA: p.o. 5 a 25mg/pombo; 0,25 a 0,5 gr/litro
Gentamicina: Inj.: 2,5 mg/pombo/ 1 a 3 x por dia.
5. Espectinomicina (*3): bacteriostático p.o. 15mg/pombo. 0,5 gr/litro.Inj.: IM ou SC12 mg/pombo/2 a 3 x por dia.Indicação: enterite.
6. Polimixinas (*4): Polimixina B: p.o. 25000 UI/pombo/2x por dia. 0,5 gr/litro.Colistona:p.o. 50.000 UI/pombo 1 a 2.000.000 UI/litro. Não há ressorção intestinal.
7. Cloranfenicol (*3): bacteriostático p.o. 50 mg/pombo/ 2x dia. Até ao máximo de 1 gr/litro.Boa penetração mesmo no sistema nervoso central, excreção muito rápida, a administração prolongada ou repetida pode provocar anemia fatal.
8. Tetraciclinas (*4) bacteriostático: Indicação: Mico plasma, Clamídias. Cálcio, Ferro, Magnésio e outros catiões interferem com a ressorção das tetraciclinas: por isso deve-se retirar o grit e outros minerais ou então duplicar ou até triplicar a dosagem.
CLORTETRACICLINA: p.o. 15 a 25mg/pombo/3 x dia; um a 1,5 gr/litro. Inj.:25 a 75 mg/ pombo/dia.
OXITETRACICLINA: p.o. 25 a 50 mg/pombo/ 2 a 3 x por dia. Por via oral ressorção fraca. Inj.:IM ou SC 25 mg / pombo.
Doxiciclina: segunda geração de tetraciclinas p.o. 3 a 4mg/pombo/ 2x por dia, 150 mg/litro.Inj.: IM 40 a 50 mg/ pombo/1 x por semana. Durante 4 a 6 semanas.

B: ANTI-HELMINTICOS

A. CONTRA NEMATOMOS
1 - Vários Produtos Antigos. Piperazina: p.o. 0,5 gr/pombo Indicação: Só contra ascarídeas adultos.
Metiridina: p.o.: Inj SC 25mg/pombo. Não adicionar na muda. Indicação: Ascáridas e capilares. Perigoso.
2 – Benzidinas e derivados fenbendazol p.o. 5 a 10 mg/pombo. Não administrar na muda. Índex terapêutico estreito: toxicidade.
FEBANTEL: p.o. 15 mg/pombo. Tem também atividade contra cestodos.
Cambemdazol: p.o. 30 mg/pombo de menos de 400 gr. Indicação: ascarídeas e capilares.
Mebendazol: p.o. 5 a 7 mg/pombo - eventualmente durante 7 dias. Indicação: ascarídeas, capilares, syngamus, cestodos e trematódeos.
3 - derivados de tetra-hidro- imidazol
(tetramisol e levamisol) LEVAMISOL: p.o. 10 a 20 mg/pombo – Duas vezes com intervalo de 14 dias – 400 mg/dia. Pode provocar vômitos passageiros.
4 – terahidropirimidina s PIRANTE: p.o. 0,4 gr/litro.
5 – AVERMECTINA: IVERMACTINA: 0,1 mg / pombo (via oral, cutânea, intramuscular) administrar 1 x, repetir após 10 dias. Indicação: vários parasitas internos e externos.
B. CONTRA CESTODOS NICLOSAMIDA: p.o. 100 mg / pombo.
Prazinqualtel: p.o. 5 mg / pombo. Indicação: cestodos e tremetodos.
c: ANTI-protozoá rios
A. TRICOMONÁCIDOS DERIVADOS DE NITROIMIDAZOL: produtos também com atividade contra a hexamitiase.
METRODINAZOL: p.o. 20 a 25 mg / pombo (5 dias); até 1gr/litro.
DIMETRIDAZOL: p.o. 25 mg / pombo (5 dias), 400mg / litro. Muito tóxico em sobre dosagem.
ronidazol p.o. 2 mg / pombo (+/- 6 dias), 40 a 100 mg / litro.
CARNIDAZOL: p.o. 5 a 10 mg / pombo segundo o peso ( 1 dias).
b. COCCIDIOSTÁTICOS - SULFAMIDAS: Administrar 5-6 dias ou tratar durante 3 dias, parar 2 dias, tratar de novo 3 dias.
sulfadimidina SÓDICA: p.o. 50-65 mg/pombo, 1 a 2 gr/litro.
SULFAQUINIXALINA: p.o. 50 mg/pombo, 0,25 gr/litro.
sulfacloropiridazin A: p.o. 15 mg/pombo, 0,3 gr/litro.
SULFAMERAZINA: p.o. 1,5 gr/litro.
SULFADIMETOXINA SÓDICA: p.o. 0,5 gr/litro. -
Benzeno aceto nitrilos CLAZURIL: p.o. 2,5 mg/pombo – 1 dia.
TOLTRAZURIL: p.o. 15 mg/pombo, 0,25 gr/litro (7 a 15 mg/pombo) – 1 ou 2 dias.
- outros produtos
AMPROLIUM: p.o. 20 mg/pombo -7 dias
d: Antimicotina - NYSTATINA: p.o. 100.000 U/Litro (durante várias semanas). -
KETATINA: p.o. 12 A 15 mg/pombo/2x por dia (15 dias).
E: hormonas
- MEDROXIPROGESTERONA: Inj. +/- 5 mg/pombo (repetir de 1 a 3 meses). Indicação: impedir ovulação.
- OXITOCINA: Inj. +/- 0,2 a 1 UI/pombo ( 1 vez). Combinar sempre com cálcio. Indicação: Retenção de ovo. - testosterona: Inj.: 0,3 mg/pombo. Indicação: Infertilidade. - Prednisolona: Inj. +/- 0,5 mg/pombo (1 x por dia). Anti-inflamató rio. Precauções: Pode provocar anomalias nas penas.

ABREVIAÇÕES
P.O.= PER OS (POR VIA ORAL).
INJ = POR INJECÇÃO
SC = SUBCUTÂNEA
*Postado por Leonardo