ALIMENTAÇÃO
Este capítulo é dos que mais amplamente têm sido tratados nos obras da especialidade. De tudo o que tenho lido e podido verificar, posso concluir que o único ponto assente e não sujeito a controvérsias é o seguinte: o regime alimentar deve ser equilibrado, deve procurar fornecer aos pombos as energias de que necessitam consoante o trabalho que têm de realizar, mas deve acima de tudo ser constituído, no que diz respeito às sementes que o compõem, por grãos de ótima qualidade, muito sãos, sem cheiros, com elevado poder da germinação e escrupulosamente limpos. É de aconselhar, caso necessário, de lavar as sementes e deixá-las depois secar durante muitas horas ao sol. Mesmo assim, não podemos ter a certeza do estar a utilizar grãos de ótima qualidade, mas já temos, pelo menos, feito aquilo que estava ao nosso alcance. Quanta ás percentagens a utilizar na composição das rações deve dizer que já vi autoridades no assunto recomendarem uma ração quase só à base de leguminosas e outras, com não menor cotação, recomendar o mesmo quanto aos cereais. Eu já experimentei das duas maneiras e os resultados foram sensivelmente os mesmos, mas reconheço a superioridade duma ração composta na sua maioria por cereais.
O problema, de resto, é muito vasto a eu não posso de forma nenhuma passar do ligeiras considerações. E para abreviar, apenas quero chamar a atenção para o que diz respeito à utilização das sementes oleaginosas e um ou dois aspectos mais. As oleaginosas que temos ao nosso alcance são a colza, a linhaça e o girassol, e devemos utilizá-las em muito pequena escala visto que o nosso clima não se compadece com outro procedimento. De todas as que me parece mais inofensiva é o girassol. Utilizemo-lo, por exemplo, numa percentagem de 5% durante a muda. A linhaça deixemo-la pare as ocasiões em que submetemos às pombos a dieta ou a um regime depurativo, e a colza vamos apenas lançar mão dela com infinitas cautelas, nas vésperas dos encestamentos, quando for preciso dar uma chicotada na forma, que teima em não se revelar de alguns viúvos. Se alimentarmos com cuidado durante todo o ano sem excessos, procurando ter sempre os pombos sob uma ponta da fome (a que nos permite encher-lhes o papo na refeição da tarde e deixá-los ao mesmo tempo sempre na ilusão de que não comeram tudo o que tinham na vontade) teremos as nossas aves disciplinadas, saudáveis, bem mudadas e aptas a iniciar com êxito quer a criação quer a época dos concursos, (não devemos esquecer, também, o preceito altamente higiênico de, de tempos a tempos dar um dia de jejum completo a toda a colônia; claro está que nesse dia as aves não devem fazer qualquer espécie de exercício). Tenhamos à disposição dos nossos pombos sempre, ou melhor, ainda, durante uma ou duas horas por dia, “grit” de todas as espécies que possamos obter bloco salgado ou, na falta deste, sal refinado, carvão vegetal, tijolo e areia da praia. Vamos também servir-lhes, dia sim, dia não, verdura migada. Depois de se habituarem a ela, comem-na tão depressa como a ração de grãos. E, por verdura, entendo: couve (as talos da couve), cenoura, cebola, espinafres, alface, agriões, etc. Misturemos tudo e se quisermos, podemos até acrescentar- lhe uma pitada de sal refinado. Outro importante elemento que se pode juntar á ração de grãos é o das sementes germinadas, com especial relevo para o trigo, muito rico em vitamina E. A água deve ser limpa e fresca, nem quente nem gelada. Os bebedouros devem ser limpos do cada vez que são utilizados e escaldados pelo menos uma vez por semana. Se quisermos desinfetar a água das coccídeas, que principalmente no tempo húmido muito se propagam através e quisermos deste veiculo juntemos algumas gotas de vinagre á água, mas paremos do tempos a tempos. O bebedouro não deve permanecer no pombal fora das horas das refeições. Os pombos depressa se habituam a beber apenas na altura em que comem isso só os pode beneficiar debaixo de todos os aspectos, além de que evitamos que bebam a água, e suja das poeiras ou outros detritos que necessariamente acabam por lá ir parar.
Problema grave que nós por vezes também temos é a da pobreza da água que utilizamos. Como obviar a este inconveniente? É difícil encontrar a termo exato, mas tentemos, PROCURANDO SEMPRE NAO CAIR NO EXAGERO. Durante a muda, principalmente, podemos dar água ferruginosa e acrescentar- lhe também, uma ou duas vezes, por semana, um pouco de fosfato de cálcio. E ainda (eis-nos chegados a um ponto nevrálgico) podemos também adicionar-lhe vitaminas, ou melhor, um complexo de vitaminas rico em cálcio, vitamina A, B1, B2, C e D. 0 ideal será servir um complexo expressamente preparado para pombos mas, na falta deste, utilizemos mesmo outro qualquer como o Protovit, a Polivitaminico, a Varimine ou outros. Nunca exageremos, porém, porque a excesso de vitaminas pode ser tanto ou mais nocivo do que a avitaminose. E se não fosse o saber que as sementes que temos no mercado não são necessariamente do melhor que há e que a água de algumas cidades, como já disse muito pobre em elementos minerais, eu não falaria sequer em vitaminas. Preconizar-vos- ia, sim, um regime como se segue de harmonia com o que prescreve o escritor columbófilo belga Leon Petit: alimentação variada e racional; uma ração de legumes dia sim, dia não, o sumo dum limão de 15 em 15 dias; no principio do tempo frio, duas gotas de óleo do fígado de bacalhau por cabeça e por dia durante duas ou três semanas. E trigo germinado durante todo o ano. Desta forma, os nossos pombos teriam tudo do que precisam para se manter saudáveis e em forma na altura em que a forma fosse necessária. Para encerrar estas notas breves sobre a alimentação, quero chamar-vos a atenção para o seguinte: Quando fornecerdes sumo do limão ou de laranja, ou vitaminas, aos pombos, façam-o através da água, num bebedouro muito limpo e, de preferência, em vidro, a nunca utilize a mesma água dumas refeições para as outras porque as vitaminas depressa se alteram.
Ocorre-me ainda, para finalizar, outro elemento de muita utilidade, principalmente na época dos concursos - o açúcar. Este é o alimento dos músculos, como dever saber. Há grandes campeões que o dão durante todo o ano, quer sob a forma de glicose, quer de açúcar cristalizado, ou ainda de mel das abelhas. Eu tenho uma especial predileção por este último que é considerado pela grande maioria como um tônico excelente. Mas cuidado também com o açúcar porque este, em excesso, desmineraliza, descalcifica.
RAÇÃO DE VOO:
“Uma mistura comercial de concursos”. É muito corrente na Bélgica a utilização, mesmo por grandes ases, destas rações já encontradas prontas no comércio. Entre nós tal facilidade não existe e eu vou dar-vos á escolha 3 tipos de ração de voo, das quais podereis escolher consoante os vossos gostos. Ireis ter oportunidade de evocar as considerações que já aqui teci acerca da composição das rações. 1º Tipo de ração de voo deve ser a seguinte:
Fava (ou feverol) – 10%; Ervilha – 10%%; Ervilhaca – 6%; lentilha – 5%; Milho – 20%%; Trigo –20%; Cevada – 5%; Dari – 5%; Girassol – 5%; linhaça - só á 2ª feira; Colza –5%; Cânhamo –5%; milho alvo – 5%.
Temos, portanto 30% de leguminosas, 55% de cereais e 15% de oleaginosas. 2º Tipo de ração de voo (de combate):
Ervilha – 31,5%; Feverol (fava) – 10,5%; Ervilhaca – 15,7%; Dari – 10,5%; Cevada – 10,5%; Trigo– 10,5%; Girassol – 10,5%%.
Nesta ração há uma diminuição considerável na percentagem das oleaginosas em relação à anterior, visto que apenas estabelece 10,5% destas sementes; e há de notável o fato de não utilizar milho de espécie alguma. Estabelece, pois 57,7% de leguminosas e 31,5% de cereais. Precisamente o contrário da anterior. 3º Tipo de ração de voo (ração básica - (destinada a ser completada pala utilização de mel na água ou Leite açucarado de forma a que cada pombo receba por dia 2 gramas de açúcar, por verdura variada, trigo germinado e óleo de fígado de bacalhau, na dose do 2 gotas por pombo e por dia):
Ervilhaca nova – 55%; Feverol ou fava – 10%; Trigo – 5%; Milho – 10%; Cânhamo – 6%; Arroz c/casca – 10%; Milho alvo – 4 %.
E, assim temos nesta ração, cuja utilização é cientificamente garantida, aonde vêm incorporadas 65% de leguminosas; 29% de cereais e 6% de oleaginosas. Se eu me dispusesse a citar-vos tudo o que tenho visto e lido sobre este fundamental problema de alimentação, não sairíamos daqui hoje e, o que é pior, chegaria á conclusão de que “cada cabeça cada sentença”.
Deixo, por conseguinte ao vosso critério, a escolha do tipo de ração, e desde já podeis ficar certos de que se respeitardes as normas que vos dei, de estabelecer uma ração variada, limpa e escrupulosamente sã, não é ai que deves procurar as causas dos insucessos, se os vierdes a ter.
*Leonardo
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